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01/05/2013

REVISIONISMO: a ideia da inexistência do Holocausto


Câmara de gás no campo principal de Auschwitz logo após a liberação. Polônia, janeiro de 1945.
Câmara de gás no campo principal de Auschwitz logo após a liberação. Polônia, janeiro de 1945. — Dokumentationsarchiv des Oesterreichischen Widerstandes 
Fonte: United States Holocaust Memorial Museum http://www.ushmm.org/

Revisão ou negação: o “mito dos seis milhões” 


por Prof. Reuven Faingold

Revista Morashá 

Edição 71 - abril/2011


  A 2a guerra mundial acabou em 1945. O mundo assistiu as atrocidades cometidas pelos nazistas contra o povo judeu. No entanto, nos bastidores, a versão oficial da história vem sendo refutada por certos grupos. Trata-se de uma nova forma, distorcida, diga-se, de interpretar o holocausto: o revisionismo histórico ou negacionismo.


O "Mito dos seis milhões"


  Numa cinzenta manhã de 1944, o poeta e pedagogo Itzhak Katzenelson foi conduzido às câmaras de gás em Auschwitz. Pouco tempo antes de morrer, registrou a seguinte frase: No futuro, os nazistas negarão todas suas culpas e, pior ainda, haverá pessoas que acreditarão na sua inocência”. 
                                  
  Esta afirmação de Katzenelson é uma profecia que se concretizou, surgindo a afirmação de que o genocídio de judeus durante a 2ª Guerra nunca aconteceu, ou, mais precisamente, não aconteceu da maneira e proporções historicamente retratadas. Os negacionistas do Holocausto não aceitam o próprio termo “negacionismo” como descrição precisa de seus pontos de vista. Utilizam, em vez disso, o termo “revisionismo”.

  Qual seria a diferença entre esses dois termos? A rigor, as metodologias dos negacionistas do Holocausto são bastante criticadas por se basearem em conclusões pré-determinadas que ignoram extensas evidências históricas; enquanto as metodologias dos revisionistas são reconhecidas academicamente.

  A maioria dos negacionistas sugerem, ou afirmam abertamente, que o Holocausto é uma farsa surgida de uma conspiração judaica para sobrepor o interesse dos judeus às custas de outros povos. Por esta razão, a negação do Holocausto é geralmente vista como uma teoria anti-semita.

Pouco depois de encerrada a 2a Guerra, publica-se na Suíça a primeira de uma longa série de “obras” que pretendem minimizar o Holocausto, isentar a cúpula nazista da responsabilidade pelo genocídio, negando inclusive o significado da “Solução Final” do Povo Judeu. Dessa forma, nascia o “mito dos seis milhões”, uma teoria que visava difundir a idéia de que o Holocausto não passava de uma invenção dos judeus para justificar a criação do Estado de Israel, em 1948.
  O número de trabalhos publicados com o objetivo de questionar o Holocausto é enorme. A maioria dos autores dos mesmos obteve seus títulos universitários de forma duvidosa ou ilegítima. Todos fazem questão de apresentar suas credenciais acadêmicas, resguardando o suposto rigor intelectual. Criam, assim, uma ilusão de objetividade científica, mas, freqüentemente confundem seus leitores utilizando uma quantidade inesgotável de dados e números, parte deles falsos ou tergiversados.
  Os primeiros textos questionando a existência do Holocausto foram redigidos pelo prisioneiro comunista Paul Rassinier, deportado a trabalhos forçados em Buchenwald. Seu livro,Debunking the Genocide Myth (Desmascarando o mito do Holocausto), citado com assiduidade, converteu-se em best-seller, disseminando-se com rapidez nos círculos da escola revisionista.
  No entanto, há quem supere Rassinier nos argumentos. Arthur R. Butz é um engenheiro que trabalha como docente numa universidade dos EUA. Pesquisa o Holocausto, demonstrando um falso cientificismo, principalmente aos olhos daqueles para quem um acadêmico é sempre uma autoridade, mesmo quando se dedica a estudar assuntos que pouco ou nada têm a ver com sua área de especialização.


  Porém, ninguém despertou tanto a atenção com suas bombásticas teorias como Norman Finkelstein. Este professor judeu-americano, filho de sobreviventes, publicou The Holocaust Industry (A Indústria do Holocausto). Sem chegar a negar a Shoá, afirma que a maior tragédia dos judeus foi retratada como uma verdadeira indústria da morte como forma de sensibilizar os EUA e o Ocidente na procura de um Lar Nacional para os judeus.
  As obras de Rassinier, Butz ou Finkelstein, aumentadas por centenas de artigos que fazem uma releitura do Holocausto, foram vertidas para diferentes línguas e continuam a ser publicadas mundo afora. Outras, como as de Finkelstein, foram adotadas pelo mundo árabe sendo distribuídas gratuitamente nos territórios palestinos da Cisjordânia e Faixa de Gaza.
  O centro revisionista que coloca em dúvida fatos relacionados ao Holocausto é o Institute for Historical Review (Instituto do Revisionismo Histórico) localizado na cidade de Torrence, próximo a Los Angeles, na Califórnia. Este núcleo de “pesquisa acadêmica” publica a revista trimestral The Journal for Historical Review (Boletim do Revisionismo Histórico), e ainda organiza congressos internacionais reconhecidos por outros centros universitários. A justificativa para manter viva esta publicação é o direito legítimo de sustentar uma polêmica “científica” sobre a 2a Guerra, tal qual acontece no mundo livre e democrático.


Os responsáveis pelo “mito”


  Para entender a tese dos questionadores do Holocausto, abordaremos a seguir temas que constituem o eixo central de suas argumentações, a saber: a tentativa de explicar a difusão do suposto mito do genocídio, a "descrição" dos acontecimentos vividos pelo Povo Judeu durante a 2ª Guerra e, finalmente, a ofensiva inescrupulosa contra tudo aquilo que possa servir como prova do brutal assassinato de seis milhões de judeus.
  Nos textos revisionistas reina uma grande desordem, por vezes intencional, para confundir o leitor. Por isso, é importante esclarecer os "fatos" apresentados de forma organizada, pois somente assim será possível criar uma discussão objetiva e científica. É, também, fundamental deflagrar premissas nocivas divulgadas nas últimas décadas, inverdades que procuram atingir como alvo principal pessoas ingênuas e despreparadas em relação à história do Holocausto e da 2a Guerra Mundial.
  Para os revisionistas, há vários elementos responsáveis pela criação e difusão do “mito dos seis milhões”. Segundo eles, "forças" interessadas em legitimizar o Holocausto funcionam separadamente ou em conjunto, e seriam:

1. O Estado de Israel, os sionistas e o Povo Judeu; fortemente motivados por três objetivos: colocar sentimentos de culpa nas nações do mundo, obtendo uma espécie de permissão para apropriar-se da disputada Terra de Israel; extorquir economicamente o povo alemão através das indenizações, e justificar o apoio incondicional brindado pelos Estados Unidos ao Estado de Israel.

2. A União Soviética, aparentemente interessada em impedir o fortalecimento da Alemanha na Europa, colocando obstáculos no caminho da unificação do continente após o final da guerra.

3. Os Estados Unidos, necessitados imperiosamente de justificar os crimes cometidos durante a 2a Guerra e, posteriormente, no Vietnã. Ao difundir o “mito dos seis milhões”, o governo americano persuade a mídia e mantém suas forças na Alemanha.

4. Elementos governamentais da Ásia e da África, interessados em provocar a rápida decadência do Ocidente durante a Guerra Fria.

  No decorrer das leituras detectamos revisionistas que  culpam os quatro elementos pela construção do “mito dos seis milhões”, outros apontam somente os Estados Unidos e a União Soviética, as duas maiores potências da Guerra Fria, como os principais responsáveis.
  Porém, todos os negadores do Holocausto chegam facilmente a uma conclusão: O Estado de Israel carrega a responsabilidade e a culpa principal pela tragédia judaica e isto jamais deve ser questionado.


Existiu um programa de extermínio?



  Os escritores revisionistas tecem comentários de difícil aceitação no que tange à morte sistemática dos judeus durante 1939-1945. Segundo eles jamais existiu um programa de extermínio para judeus, pois seu número no mundo não mudou depois da 2ª Guerra Mundial e, em 1945, era praticamente idêntico ao de antes da guerra. Isto é uma inverdade, uma vez que o número de judeus que havia na Europa antes da eclosão da guerra era 18 milhões, passando a ser 12 milhões após 1945. Em seis anos o Povo Judeu perdeu um terço de sua população. Paira então a pergunta: onde foram parar os judeus ausentes das estatísticas?
  Os questionadores do Holocausto tentam mostrar que a palavra “extermínio” não aparece nas fontes históricas e que o termo alemão endloesung, freqüente nos documentos alemães, faz referência a um plano destinado a acelerar a emigração dos judeus do Terceiro Reich e, posteriormente, de outros países da Europa conquistada. Somente quando a emigração se tornou impossível, foi traçada uma nova estratégia: agrupar os judeus por cidades e transportá-los a zonas determinadas do Leste europeu.
  Segundo os revisionistas, não foram construídas câmaras de gás nem foi utilizado o gás Zyklon B para assassinar judeus. Entrando em total contradição, afirmam que: Se, porventura foram construídas câmaras de gás e utilizado gás, foi com o intuito de desinfetar prisioneiros. E, se algum judeu morreu nestas circunstâncias, foi por causa de pessoas desvairadas, dementes e desajustadas”.       Seguindo suas próprias convicções, jamais se cogitou aniquilar seres humanos com um gás raticida. Como tentar responder uma afirmação tão descarada? Basta aconselhar a essas pessoas um rápido tour guiado pelas câmaras de gás de Auschwitz-Birkenau ou Majdanek. Nessa visita, poderão ainda percorrer o Museu de Auschwitz, em cujas vitrines há centenas de latas do gás Zyklon B.
  O argumento de que os alemães não exterminaram judeus está vinculado ao fato de que os judeus não eram para os nazistas nada mais que mão-de-obra-escrava. Para obter um melhor aproveitamento, os judeus e outros prisioneiros foram internados em campos de trabalho forçado. Neles havia inclusive comunistas alemães. No campo de Auschwitz, funcionou uma fábrica de cortiço para objetivos bélicos. Os negacionistas afirmam que o terrível odor presente no lugar não emergia dos crematórios e sim dessa fábrica. Os velhos e doentes ficavam sempre em acampamentos especiais de trânsito. Partindo dessa explicação, torna-se mais fácil ainda argumentar que os campos de extermínio jamais existiram, somente na fértil imaginação dos judeus.
  Então, ainda paira no ar uma pergunta que os negacionistas precisam responder: De que forma, então, morreram os judeus? Segundo eles, “a morte de tantos judeus aconteceu pelas precárias condições de saúde reinantes na guerra.   Colocam entre 100 mil e 1 milhão (ou talvez 1, 5 milhão) o número de baixas em campos de trabalho. Vejam as oscilações numéricas aqui apresentadas. Como é possível citar indistintamente 100 mil ou 1 milhão como se fossem números  próximos!!! Para eles, a maioria dos judeus morreu de tifo, epidemias e doenças contagiosas, mas poucos assassinados. Os que mataram judeus nunca fizeram parte da administração ou da hierarquia nazista.

  Uma outra explicação dos questionadores do Holocausto consiste em afirmar que os representantes ou chefes escolhidos pelos próprios prisioneiros e presos políticos dos campos eram mais cruéis que os próprios oficiais das SS, as forças responsáveis pelos acampamentos. Para eles, “a cúpula nazista não tinha a menor idéia do que acontecia nos campos de prisioneiros”.
  Na opinião dos revisionistas, há uma outra razão para tratar de entender o número considerável de baixas entre os judeus: eles se sobressaíam nos movimentos de oposição, ocupando cargos importantes nas lideranças comunistas dos territórios do Leste. Assim, “os judeus foram castigados com rigor, pois não eram considerados seres humanos”.
  Nas diferentes argumentações, nunca houve um programa de extermínio do Povo Judeu. Em outras palavras, nenhum judeu morreu assassinado com pleno consentimento do Terceiro Reich, nem do seu Führer, Adolf Hitler e nem do próprio povo alemão.


Crematórios, seleção e demografia


  Seguindo o raciocínio dos questionadores, o Holocausto não passa de um mito, uma mera invenção de países interessados em tirar proveito da situação vexatória em que se encontrava a Alemanha no final da guerra. Para eles, existem fatos mais complexos que fazem parte de uma "trama" orquestrada pelos judeus contra seus carrascos. Desta forma, engana-se facilmente um público que não costuma testar a veracidade dos fatos.


Para todos os revisionistas ou negacionistas:


1. Os fornos crematórios existiram, mas não foram construídos para queimar pessoas vivas. Serviam apenas para incinerar corpos de pessoas mortas em conseqüência das precárias condições de vida que imperavam nos campos. Assim como as instalações das câmaras de gás não funcionavam senão como fornos crematórios. Como o leitor pode perceber, os revisionistas criam propositadamente uma sutil confusão entre as funções das câmaras de gás e dos fornos.

2. A seleção de judeus feita pelos nazistas em circunstâncias "especiais" servia somente para "direcionar" os prisioneiros aos diferentes lugares de trabalho e isto de acordo com a capacidade de cada lugar. Os questionadores afirmam que aqueles judeus sem condições de trabalho eram conduzidos imediatamente a campos especiais, mas nunca assassinados. Esta afirmativa falta por completo à verdade, pois já na plataforma de Birkenau o comandante Rudolf Hess e o Dr. Josef Mengele faziam uma rígida seleção entre judeus aptos para o trabalho, doentes, crianças e idosos. Os últimos eram imediatamente enviados às câmaras de gás.

3. Dois dos conceitos relevantes relacionados com a fatídica “Solução Final”,sonderbehandlung (tratamento especial) e vergasung (gasificação) são considerados termos alheios ao extermínio dos seis milhões. Tratamento especial significaria um “tratamento melhor”, e gasificação era algo assim como ligar um motor que emitisse gases. A “Solução Final” do Povo Judeu foi definida, ironicamente, pela Conferência de Wannsee (20/01/1942) como a melhor forma de brindar aos judeus da Europa um trato “especial e digno”.

4. Sobre o número exato de judeus que moravam na Europa, fica difícil saber numa época em que não era hábito realizarem-se censos populacionais. No entanto, um fato é evidente: “Judeus que viviam na Europa nos anos 1930 haviam desaparecido de suas casas ao término da 2ª Guerra”.Como os revisionistas explicam este sumiço de judeus? “Naturalmente, alguns emigraram para os EUA e Israel, enquanto outros foram transportados pelos nazistas aos territórios do Leste. O abandono dos lares fez os alemães acreditarem que aqueles judeus jamais voltariam a suas casas. Outros judeus, sem motivos específicos, sumiram durante a guerra”.Reparemos como os transportes (deportações) aos campos aparecem diluídos entre outros tantos motivos que fizeram minguar a demografia judaica na Europa. Não há sequer uma palavra que mencione o extermínio em massa como fato indiscutível da queda demográfica.

5. Todos os campos tidos como campos de extermínio estavam localizados sob domínio polonês. Isto dificulta a pesquisa, ficando quase impossível fazer trabalhos objetivos sobre o número de mortos e, muito menos, avaliar a ação dos temidos esquadrões da morte ou “Einsatzgruppen”. Em outras palavras, para os questionadores do Holocausto, a ação criminosa dos carrascos de Himmler, responsáveis pela morte de 1,5 milhão de judeus em apenas seis meses, não pode ser estudada e muito menos relacionada nas pesquisas.



Fotografias, julgamentos e a Kristallnacht


  Na visão dos questionadores do Holocausto, resulta extremamente fácil apresentar como provas do genocídio as fotografias de corpos empilhados, sem vida. Para eles, este é um outro “artifício” judaico para construir o “mito dos seis milhões”. As fotografias que testemunham a tragédia do Povo Judeu seriam montagens, colocadas com o objetivo de sensibilizar o mundo. A rigor, afirmam os revisionistas, trata-se de fotografias de pessoas mortas de morte natural ou de alemães que perderam a vida nos bombardeios aliados.
  É preciso explicar com bastante cuidado as imagens fotográficas que eternizaram o Holocausto. A falta de documentação judaica é grande no tocante ao material visual. As fotos tiradas por judeus são poucas, mas nunca se nos mostram neutras. Ao contrário, depõem, descrevem, nos fazem entender o ponto de vista do próprio fotógrafo face àquilo que fotografava. Já nas fotos dos alemães, as vítimas aparecem como objeto de escárnio, não como sujeitos. Duas são as fontes principais das fotografias alemãs: as unidades especiais de propaganda da SS e os soldados que, por conta própria, retrataram a vida nos guetos e a “Solução Final”. A rigor, a maioria das imagens do Holocausto provêm dos alemães. Seria uma forma de registrar, para as gerações vindouras, imagens de um povo milenar que no futuro deixaria de existir.
  Para revisionistas e negacionistas, os nazistas capturados e julgados em tribunais pelos aliados, como Adolf Eichmann, Nicolas Klaus Barbie e outros, foram extremamente pressionados a admitir suas acusações. Esses réus, sob tortura, admitiam participar em crimes nos quais não tiveram parte, mas desta forma poderiam salvar suas vidas. As testemunhas dos Julgamentos de Nürenberg (10/1945-10/1946) ou do Processo Eichmann (1960) não são nada confiáveis.     Tanto Inglaterra, França, EUA e Rússia montaram um cenário do qual seria difícil escapar, e “orquestraram um verdadeiro linchamento dos principais oficiais alemães”. No caso específico do Eichmann, o Estado de Israel foi responsável pela operação e seu Serviço de Inteligência (Mossad) montou uma eficiente estratégia de espionagem para capturar o nazista na Argentina e levá-lo a julgamento em Jerusalém.
  Pesquisadores revisionistas argumentam que tanto no Tribunal de Nürenberg como no Tribunal de Jerusalém, os sionistas não se conformaram com tergiversar os acontecimentos, mas optaram por trilhar caminhos bem mais deploráveis, como inventar provas, forjar documentos, falsear testemunhas e apelar para fotos, nas quais aparecem câmaras de gás como prova da morte dos seis milhões.    Fica difícil entender o motivo pelo qual, nesses tribunais, os judeus estariam impedidos de colocar fotos dos campos, das câmaras de gás e dos fornos crematórios como provas contundentes das atrocidades nazistas.
  Em relação à fatídica Noite dos Cristais, a visão negacionista isenta de toda responsabilidade a alta cúpula nazista, afirmando que os atos de vandalismo na Kristallnacht (9-10 novembro 1938) foram perpetrados por oficiais com hierarquias inferiores, por grupos da SS e pela própria população alemã. Isto é a meia-verdade. Há documentos comprovando que Reinhard Heydrich, Chefe do RSHA (Ministério de Segurança do Reich), havia preparado os distúrbios com antecedência e o governo estava aguardando o momento propício para colocar em prática seu plano (ver Morashá 63) .A “Multa de Göering” de R$M 1.000.000.000 aplicada aos judeus do Reich já aparece num documento de 18/10/1938.






 Métodos de questionamento



  Métodos revisionistas são, a rigor, métodos próprios. Eles modificam o significado dos documentos, adulteram dados, falsificam testemunhas. E, quando se trata de uma evidência impossível de ignorar, não duvidarão em desqualificar sua autenticidade. Importante lembrar que foram os próprios nazistas os facilitadores de tais mentiras, a ponto de afirmar que o Holocausto e sua negação começam simultaneamente.. É difícil ignorar as ordens de Hitler de 1943, os discursos de Himmler em outubro desse mesmo ano e as instruções de Heydrich às unidades especiais na Polônia em setembro de 1939. Ditos documentos são provas fiéis do propósito dos alemães de “manter no mais absoluto segredo tudo que dizia respeito à questão judaica”. Seguindo esta linha de raciocínio, os nazistas utilizavam eufemismos para sinalizar a morte. Nas falas surgem expressões como “Solução Final”, “tratamento especial” e “evacuação”. Nada que lembrasse a palavra morte devia ser pronunciado, muito menos registrado por escrito.
  Esquecem os questionadores que o extermínio do Povo Judeu, sistemático e cruel, aconteceu em instalações dissimuladas distantes da Alemanha. Portanto, os vastos territórios ocupados
na Polônia serviriam para levar à morte milhares de judeus.

  Os questionadores preferem não lembrar que os nazistas enganavam suas vítimas criando um clima idealizado: faziam declarar seus bens pessoais para que os mesmos lhes fossem supostamente enviados a novos endereços, remessa de cartões-postais a familiares descrevendo boas condições de vida no campo, promessas sobre campos como colônias de férias colocando cartazes com a frase arbeit macht frei (o trabalho liberta), promessas de uma desinfecção e chuveiros quentes etc. Mas, o destino final conduzia, fatalmente, às câmaras de gás.

  Negacionistas costumam explicar que não há indícios de ter acontecido um Holocausto, já que Hitler jamais assinou documento algum autorizando seus oficiais a matar judeus. A frustrada tentativa de eximir o Führer de suas culpas não pode ser aceita, afinal não era necessária a assinatura dele quando a máquina nazista funcionava sozinha perfeitamente, como uma engrenagem lubrificada.
  A pesquisa do pós- 2a Guerra extrai o máximo de proveito da negação do Holocausto, adulterando informes da Cruz Vermelha Internacional, omitindo dados valiosos sobre os sanguinários esquadrões da morte (Einsatzgruppen) e desqualificando documentos acerca da participação de renomados nazistas em operações contra os judeus.
  Nessa linha histórica questionadora, fica "justificado" o silêncio do Vaticano em relação ao massacre de judeus na Europa. De acordo com sua versão, Pio XII não tinha o menor conhecimento do que acontecia na Europa e muito menos do que diz respeito à morte de judeus. Afirmam, ainda, colocando a culpa nos americanos, que os EUA, se assim o desejassem, poderiam ter acabado com campos de extermínio como Auschwitz - coisa que não fizeram.
  A manipulação de dados estatísticos é freqüente na tentativa de rever o Holocausto. Como escreveu o escritor gaúcho Moacyr Scliar, falecido em fevereiro último, seis milhões de pessoas (dentre elas um milhão de crianças), é um número muito além do nosso cognitivo. Seis milhões de vítimas, é uma noção ainda pior. É duro admitir, mas a extensão do Holocausto ultrapassa as possibilidades de nossa imaginação.



Anti-semitismo, racismo e anticomunismo

  
  É possível que algumas motivações dos questionadores revisionistas não apareçam em suas obras. Há motivações pecuniárias, o patrocínio de livros através de organizações pró-nazistas ou entidades anti-sionistas; e existem também estímulos decorrentes da própria vontade de vingança. Dentre os temas que podem chegar a explicar as diferentes motivações em rever o acontecido durante a Shoá, o anti-semitismo, o racismo e o anti-comunismo ocupam lugar de destaque.
  O ódio gratuito é, certamente, a maior motivação. O questionador responsabiliza os próprios judeus pelos maus tratos sofridos durante a 2a Guerra, justificando que os nazistas tinham pleno direito de internar em campos de concentração aqueles judeus que emitissem opiniões anti-alemãs. Mesmo sendo anti-semitas, os nazistas tiveram excelentes relações com os árabes, também semitas.
  O Mufti Hadj Amin Al-Husseni se encontrou com Hitler na Europa. Se não tivessem manifestado soberba e arrogância, os judeus teriam sido tratados com total respeito. Eles não quiseram entender que durante o Terceiro Reich não haveria lugar para outras minorias, negando-se a aceitar a política doFührer.
  Com o intuito de comprometer e satirizar ainda mais o lado judaico, os negacionistas dizem que o próprio Hitler tinha origem judaica e que o sofrimento ocasionado a eles tinha um único propósito: acelerar o estabelecimento do Estado de Israel. Portanto, Hitler e não Theodor Herzl foi o merecedor do título de “fundador do Estado Judeu”.
  Baseando-se nos princípios dos Protocolos dos Sábios de Sion (ver Morashá 64) e na contramão dos interesses do Ocidente, os judeus dominam o mundo inteiro e não há quem consiga superá-los. O poderio do Povo Judeu se propagou pelos EUA, país em que obtiveram a “permissão” para criar e difundir o “mito dos seis milhões”. Outro importante argumento revisionista afirma que os judeus eram fortes aliados dos bolcheviques, dirigindo desde Moscou e Tel Aviv a política internacional.
  Nos textos questionadores há também argumentos anti-sionistas, utilizados com fanatismo. Através da criação do mito, o Estado de Israel é visto como centro estratégico de um complô internacional que permite implementar todos os objetivos sionistas, a saber: apoderar-se do dinheiro do mundo, desapropriar os árabes de suas terras e manipular, de acordo com seus interesses, a sua história milenar, toda ela repleta de dor e sofrimento.


  Vale a pena destacar que não há consenso sobre o tema Holocausto, mas os historiadores sérios e respeitados concordam que a barbárie ocorreu, sim, e da forma mais brutal e sistemática possível; e são uma pequena minoria os que questionam a dimensão do mesmo.
  Para os revisionistas, uma figura como Hannah Arendt não passa de uma intelectual agitadora travestida de propagandista do Holocausto. E tanto o promotor do processo Eichmann, o juiz Guideon Hausner, como as testemunhas convocadas a depor em Jerusalém, não eram confiáveis. Todos, sem exceção, agiram motivados pelas indenizações monetárias que iriam receber da Alemanha.
  O discurso racista é pouco consistente entre revisionistas. Eles sabem que os judeus não constituem uma raça e sim um povo. Portanto, esta “escola acadêmica” entendeu perfeitamente que vilipendiar e destratar judeus simplesmente por fazerem parte de uma raça, implicaria responder a processo jurídico por discriminação e difamação — crimes inafiançáveis em vários países, inclusive no Brasil. Mesmo assim, sabendo dos riscos, encontramos na Europa pequenos movimentos que tentam recriar o nazismo e sua ideologia segregacionista.
  Da mesma forma que Hitler lutou contra o comunismo, questionadores do Holocausto combatem o elemento judaico pregando uma batalha total contra o comunismo pós-guerra. Para estes, os campos de trabalho e concentração mais cruéis não foram aqueles construídos pelos nazistas, mas os campos soviéticos localizados na Sibéria. A postura anti-soviética dos alemães sugere que as atrocidades perpetradas pelos nazistas contra os judeus foram mera "invenção" dos comunistas, interessados em difundir o “mito dos seis milhões” para impedir a reunificação da Europa.


Palavras finais


  As tentativas de negar o genocídio sistemático de seis milhões de judeus nos obrigam a admitir uma amarga verdade: o anti-semitismo é uma doença grave que ainda está latente nas sociedades. Ele pode adormecer durante certo período, mas volta com novas forças, mudando suas vestes e atuando com brios intensos. No decorrer das gerações, os judeus mantiveram a esperança no desaparecimento do fenômeno, porém aos poucos entenderam que é impossível desligar-se totalmente do bacilo do anti-semitismo.
  Atualmente, é impossível ignorar os argumentos dos revisionistas. Eles existem e devem ser combatidos com a eloqüência da argumentação, pois ditas justificativas, mesmo que infundadas, aparecem diariamente nos meios acadêmicos e no mundo virtual. A luta contra o revisionismo histórico e contra aqueles que negam o Holocausto do Povo Judeu é tarefa árdua e ininterrupta de todas as pessoas esclarecidas que não compactuam com inverdades e falsos argumentos. Para acreditar na frase “Nazismo nunca mais” basta convidar os revisionistas a visitarem os diversos Museus do Holocausto espalhados hoje nos quatro cantos do mundo.


  Bibliografia


Algassi, J., Purificando o impurificável , MALKUT MORESHET 28, 1979 

Arendt, H., Eichmann in Jerusalem: A Report on the Banality of Evil, New York 1965.


Butz, A., The Hoax of the Twentieth Century. Chapel Ascote, 1976.
Castan, S.E., Holocausto: Judeu ou alemão? Nos bastidores da mentira do século, Porto Alegre 1987.


Finkelstein, N., A Indústria do Holocausto: reflexões sobre a exploração do sofrimento dos judeus, Ed.Record. Rio de Janeiro – São Paulo 2001.


Gutman, I., A negação do Holocausto. JUDAÍSMO CONTEMPORÂNEO vol. 1, 1984, págs. 103-119 (hebraico).


Katz, S., The Holocaust in Historical Context, Oxford,1994.


Novick, P., The Holocaust in American Life,New York 1999.


Rassinier, P., Debunking the Genocide Myth. A Study of the Nazi Concentration Camps and the Alleged Extermination of European Jewry. Introduction by Pierre Hofstetter. Translated from the French by Adam Robbins. The noontide Press, Newport Beach, CA, Los Angeles 1978.



O Prof. Reuven Faingold é historiador e educador, PHD em História e História Judaica pela Universidade Hebraica de Jerusalém. Professor titular da pós-graduação no Departamento de História da Arte da FAAP em São Paulo e Ribeirão Preto, é também sócio fundador da Sociedade Genealógica Judaica do Brasil e, desde 1984, membro do Congresso Mundial de Ciências Judaicas de Jerusalém.





Um comentário:

  1. Holocausto discutir é o mais importante,debater,não concordo em afirmar que os revisionistas são neo-nazistas apensa possuem uma opinião diferente da historiografia oficial,genocídio de índios teve nas três américas não vejo certos parlamentares discutir tal assunto,evidente que o povo judeu tem direito de defender o que acreditam mas não com imposição sociedade aberta é debater e inquirir,se houver insulto gratuito é outra história,mas liberdade de questionar e divergir me perdoe é outra coisa.

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