Foto do passaporte de Paul Celan, 1938. Fuga Fúnebre (1948) Leite preto bebemos da aurora toda noite meio-dia e bebemos e toda manhã toda noite. bebemos bebemos. cavamos no ar onde há lugar para a gente deitar-se numa cova. há um homem na casa que brinca com cobras que escreve que escreve no ocaso à Alemanha natal Margarete suas tranças douradas que ele escreve e vai diante da casa e as estrelas fulguram chamar assobiando seus cães chamar seus judeus assobiando mandando-os cavarem na terra uma cova ele manda tocarmos agora uma dança Leite preto da aurora bebemos você toda noite bebemos você de manhã meio-dia e de tarde bebemos bebemos há um homem que brinca com cobras que escreve que escreve no ocaso à Alemanha natal Margarete suas tranças douradas Sulamita suas tranças cinzentas cavamos no ar onde há lugar para a gente deitar-se numa cova Ele manda vocês aí escavarem mais fundo este solo e vocês lá cantando e tocando tem um ferro em seu cinto que pega e que brande tem olhos azuis vocês com as pás escavando mais fundo e vocês lá tocando essa dança Leite preto da aurora bebemos você toda noite bebemos você de manhã meio-dia e de tarde bebemos bebemos há um homem que está Margarete suas tranças douradas Sulamita suas tranças com cinzas na casa e que a morte é um mentor da Alemanha ele berra ao ferirem mais fundo os violinos vocês flutuarão como ar a fumaça e vão ter com lugar para deitar-se com uma cova nas nuvens Leite preto da aurora bebemos você toda noite bebemos você meio-dia é que a morte é um mister da Alemanha bebemos você toda noite e manhã nós bebemos bebemos é que a morte é um mentor da Alemanha com olhos azuis que acerta uma bala de chumbo em você sempre acerta na mosca há um homem que está Margarete suas tranças douradas na casa que solta cachorros na gente e que no ar nos concede uma cova que brinca com cobras e sonha é que a morte é um mister da Alemanha Margarete suas tranças douradas Sulamita suas tranças em cinzas. tradução de Nelson Ascher in: Schoá - Sepultos nas Nuvens. Gérard Rabinovich. São Paulo: Perspectiva, 2004. "Alors vous montez en fumée dans les airs. Alors vous avez une tombe au creux des nuages. On n'y est pas couché à l'étroit." Paul Celan |
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05/04/2013
Paul Celan (1920-1970)
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