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14/06/2013

[RESENHA] Coisas que Ninguém Sabe - Alessandro D'Avenia



                                     DORES E AMORES DE UMA PÉROLA 

  
  Nunca tinha lido nada de literatura 
italiana, mas há muito tempo adoro a sonoridade e a pronúncia do idioma do País da Bota.
  O contato  com a narrativa do Alessandro me deixou, literalmente, nas nuvens. Não consegui parar de ler um minuto, e quando parava, de vez em quando, retomava logo. 
  O livro conta a história de Margherita, a protagonista de 14 anos, e os seus dissabores e alegrias no começo das mudanças da adolescência e a nova etapa na vida escolar.
  Margherita sente medo, pois além de não saber como será esta brusca transformação, seu pai abandona a casa, deixando sozinhos sua filha, sua mulher e seu filho caçula. 



  Como tinha confiança no pai, fica decepcionada, despedaçada, não sabe como enfrentar a situação. Sua relação com a mãe está prestes a extinguir-se, e seu refúgio, muitas vezes, é a casa da avó, Teresa, ou o armário no quarto dos pais. 
  Alessandro descreve cada detalhe com maestria, no trecho abaixo, a formação da pérola, criada pela dor da adolescente. Metáforas.
  
  "No escuro, Margherita era um molusco fechado em sua concha, que um predador surpreendeu aberta e indefesa. A carne tenra tenta fazer aderirem as camadas perfeitamente, como uma caixa-forte capaz de resistir a toda a pressão do mar, mas despreparada para as pinças afiadas e cirúrgicas do inimigo. O predador tentava arrancá-la de suas paredes seguras, deixá-la vazia, deserta, casca despedaçada, sacudida pelas correntes. Seu pai a chamava assim: minha pérola. 'Esse é o significado de Margherita', repetira ele mil vezes. Mil vezes mentiroso, o pai e seu perfume.
  Margherita sentiu de novo o coração bater ferozmente (...). Latejava forte, solicitado pela ameaça de morte, pelo veneno, pela dor." (COISAS QUE NINGUÉM SABE, p. 28.)

  A menina tem de entrar no liceu, e no início não consegue acostumar-se, pois os colegas acham-na estranha e riem dela. 
  Trava amizade com Marta, sua colega de carteira, além de depois, ter a simpatia do professor de latim, um homem que só pensa em seus livros e tem dificuldade de expor seus sentimentos.
  Conhece um garoto misterioso no primeiro dia de aula, Giulio, que se identifica com ela, mas só se falam depois de muito tempo. 

    "(...) Viu-se cara a cara com dois olhos azuis, quase brancos, estrelas de uma galáxia perdida. Como um marinheiro sob o manto noturno do céu, imergiu naqueles olhos e viu algo parecido com ela. Giulio, surpreendido por aquelas duas feridas verdes e melancólicas, fitou-a de volta, tempo suficiente para um poeta receber inspiração. Pupilas nas pupilas, tiveram a sensação de quem, através de uma fissura, debruça-se sobre um abismo até ser tomado por uma inebriante e sagrada vertigem. Para não cair, precisaram desviar o olhar. Ele deslizou o seu ao longo dos braços dela e observou-lhe as mãos finas, afuseladas, movediças: era como se tivesse encontrado a absolvição de que precisava e que não sabia estar buscando. (...) Ele, criatura invencível do escuro, deixara-se encantar por um minúsculo e insignificante vagalume esvoaçante em uma noite de verão." (p. 50)

  O tempo passa e Margherita pensa cada vez mais em Giulio, como também sua amizade com Marta se fortalece, e, por conta de uma das aulas de latim, decide ir em busca do pai. 
  O professor passa-lhes para ler a Odisseia. Margherita sente-se como Telêmaco, filho de Ulisses. 
  Conversa muito com a avó, dizendo-lhe que tem raiva do pai mas sente falta dele, e a avó lhe sugere que lhe diga isso pessoalmente, daí a ideia de achá-lo, inspirando-se no livro. 
  A menina sofre muito com a separação, mas a amizade de Marta a ajuda, e toda sua família, as brincadeiras dos irmãos da amiga, e o seu irmãozinho Andrea, gênio do desenho.
  Ela pede auxílio ao professor, para que esteja com ela ao encontrar seu pai, mas ele não aceita. Marta a convida a fazer aulas de teatro, pois sua mãe é figurinista. 
  Margherita se fortalece pouco a pouco, e na aula, Giulio subitamente aparece e desaparece. É ele quem vai com ela na viagem, e a partir daí formam um laço inquebrável.
   Este livro me impressionou de verdade, toda a poética e mágica da escrita de Alessandro  é sinceramente surpreendente. Coisas que ninguém sabe é um romance que mistura todas as sensações possíveis, dor e encantamento, inspiração, amor e tristeza. É um romance sublime, imagina-se que Alessandro escutou esta história de alguém e contou-a cheia de poesia e mar. 




Título Original: Cose che nessuno sa
Autor: Alessandro D'Avenia

Tradução: Joana Angélica D'Ávila Melo

Editora: Bertrand Brasil

Ano de Publicação: 2013
Páginas: 376
ISBN: 978-85-286-1650-7

Classificação:






Sobre o autor

Alessandro D'Avenia é doutor em Letras Clássicas, além de professor e roteirista. Branca como o leite, vermelha como o sangue foi acolhido com grande entusiasmo pelo público e crítica, e teve os direitos vendidos para o cinema. Blog do autor: www.profduepuntozero.it




Um comentário:

  1. Ahhh, feliz que tenha amado tanto quanto eu :D
    A narrativa dele é incrível mesmo. Muito bonita, cheia de poesia e reflexões filosóficas.
    Mal posso esperar para ler todos os livros que o autor lançar!
    Beijão!

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