(...)
Agora que os ladros caem, agora que os galos galam,
Agora que alvando a toca as altas soam campanas;
E os zurros burram e que os gorjeios passaram,
E os assovios serenam e que os grunhidos porqueiam,
E que a aurorada rosa os extensos douros campa,
Perolando líquidas calhas tal qual eu lágrimo derramas,
E friando de tirito embora a abraza almada,
Venho suspirar meus lanços janelo de teus debaixos.
Não apenas introduzia a desordem por onde passava recitando as réstias intermináveis do poema, como aprendi a falar com a fluidez de um nativo de sabe-se lá onde. Acontecia comigo com frequência; respondia qualquer coisa, mas quase sempre era tão estranha ou divertida, que os professores se perdiam. Alguém deve ter-se inquietado pela minha saúde mental, quando numa prova dei uma resposta correta, mas indecifrável à primeira vista. Pelo que me lembre, não havia má-fé nessas brincadeiras fáceis que divertiam a todos.
MÁRQUEZ, Gabriel García. Viver para contar. Tradução de Eric Nepomuceno. Rio de Janeiro: Record, 2003, p. 160.
Poema de José Manuel Marroquín.
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