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26/05/2013

[RESENHA] O Fio - Victoria Hislop


                                                                        
SIEMPRE THESSALONIKI 

  A sinopse deste livro já tinha me encantado desde o lançamento, em fevereiro, mas só pude começar a lê-lo recentemente, e é incrível como a Victoria conseguiu me prender com a narrativa, rápida e detalhada, além de realmente apaixonante. 
  Um pequeno trecho, antes do prólogo, foi o que me fez, de verdade, amar a capacidade da autora de contar uma história maravilhosa em meio às guerras do começo e meio do século XX.
  Um casal de idosos está sentado em um café da cidade, e seu neto os vê, vai falar com eles. Mitsos está na cidade por um ano, para estudar. Quer saber por que os seus avós não saem de Tessalônica, e conhecer sua história. De repente, o rapaz nota um cego do mesmo lado da rua. Depois de ajudá-lo a atravessar, o rapaz ouve palavras que o fazem pensar pela primeira vez na mágica do lugar.

  "— Você sabe que o mar está logo ali, não é?
   — Claro que sei. Ando por aqui todos os dias.
   (...) 
   — Não seria mais seguro ir a um lugar com menos gente? — perguntou Mitsos. 

   — Seria, mas aí eu estaria perdendo isso tudo... — respondeu ele.

   Fez um gesto largo indicando o mar em volta e a baía em curva que se estendia num semicírculo diante deles, e então apontou para a frente, na direção das montanhas cobertas de neve a cem quilômetros dali, do outro lado do mar.
   — O monte Olimpo. Esse mar sempre diferente. Os petroleiros. Os barcos de pesca. Sei que acha que não enxergo isso, mas já enxerguei. Sei que estão ali. Ainda os guardo na retina, e sempre os guardarei. E não é apenas o que se vê. Feche os olhos.
   (...) 
   E naquele momento, quando o seu mundo escureceu, Mitsos sentiu seus sentidos se aguçarem. Os barulhos ficaram ensurdecedores, e o calor do sol em sua cabeça quase o fez desmaiar.
     — Fique assim — insistiu o cego quando Mitsos sentiu que ele o largava por um momento. — Só por mais alguns minutos.
      (...)
    Sem abrir os olhos, Mitsos podia dizer que o homem estava sorrindo.
    (...)
   — E você se dá conta de que é diferente todo dia? Todo santo dia. No verão, o ar é muito parado, e o mar, muito liso, parece óleo, e sei que as montanhas somem na névoa. O calor reverbera nessas pedras e eu o sinto na sola do sapato.
   Os dois estavam parados diante do mar. Aquela não podia ser descrita como uma típica manhã tessalônica. Como dissera o homem, nunca havia um dia igual ao outro, mas havia uma constante no panorama que se estendia diante deles: um sentido de história e atemporalidade. (HISLOP, p. 16-17.)"
  
  Quando Mitsos volta, Katerina, sua avó, começa a contar a história, junto a seu avô. 
  Em 1917, em meio à guerra, houve um incêndio, que destruiu toda a cidade. Enquanto isso, seu avô vinha ao mundo, e Konstantinos, o pai, não se preocupou nem um pouco com a saúde da mulher e do filho, e se o fogo havia consumido a rua onde moravam. Corria à loja de tecidos com o irmão, Leonidas. 
  A mansão do casal fora destruída, assim como a loja, e mudaram-se para outro bairro, onde viviam judeus, muçulmanos e cristãos. Sinagogas, igrejas e mesquitas de toda a cidade desapareceram nas chamas. 
  Konstantinos começa a reconstruir a loja, sem ficar em casa, estando em um hotel e raramente visitando a mulher, Olga, e o filho. Quem mais os visita é seu irmão, que tem uma forte afeição pelo sobrinho. 
  No bairro, Olga, assim que chega, reencontra os antigos vizinhos, a família Moreno, sefaradita vinda de Granada há muitos anos para Tessalônica, e a família Ekrem. 
  1922. Leonidas, oficial do exército, vai à Turquia lutar pelo país, e chega na cidade de Esmirna. Lá, começa uma outra guerra, turcos e gregos morrendo de todos os lados. 
  Na confusão, ele reflete sobre suas ações, e nesse ínterim, encontra Katerina, uma menina de cinco anos que se perdeu da mãe e da irmã enquanto estavam prestes a embarcar para Atenas. Ele percebe que há uma queimadura no braço da menina, e faz-lhe um curativo com a manga da camisa, e pede a uma mulher que a encaminhe para um bote.
  Adorei o jeito como Leonidas é diferente do irmão, e a maneira como a autora construiu todos os personagens é impressionante, para mim foi difícil deixar o livro de lado, embora só tenha retomado a leitura alguns dias depois.
  Quando está no navio, Katerina fica com uma senhora chamada Eugenia, que tem duas filhas. Katerina logo faz amizade com elas, ansiosa por reencontrar a mãe e pensando que o navio chegará em Atenas. 
  Chegam em Tessalônica, e conseguem um lugar para morar, pois Eugenia diz Katerina como sua filha. A família que morava na casa antes era os Ekrem, na mesma rua de Olga Komninos. Apesar da tristeza por não estar em Atenas, Katerina se acostuma com a vida na cidade e fica amiga de Dimitri, filho dos Komninos, e de Elias, caçula dos Moreno. 
  O pai de Elias tem uma alfaiataria, para a qual quem fornece os tecidos é Konstantinos. Os anos passam, e Katerina, filha de costureira, começa a treinar novamente sua costura com a mãe de Elias, Roza. Consegue um trabalho na empresa dos Moreno. 
  Mesmo longe da mãe, envia-lhe cartas, na esperança de que ela lhe responda. Um dia, isso acontece, e passam a se corresponder, embora nunca se encontrem.
  Em 1941, os alemães invadem o país. Chegam muitos oficiais na alfaiataria, pedindo que os Moreno lhes façam uniformes, e a família consegue viver por algum tempo sem   passar fome. 
  Dimitri partiu para longe, aderindo aos comunistas, para tentar salvar o país. Seu pai não aceita a decisão dele, e a partir daí começa uma batalha sem fim contra o filho. 
  Roza Moreno, para esconder os pertences judaicos da casa, pede a Katerina que costure colchas e almofadas, sendo ao mesmo tempo decoração da casa e ocultando os objetos preciosos. A descrição desta cena é o trecho no começo do livro, e é tão envolvente quanto a história.
  O tempo passa e têm a ordem de vestirem estrelas-de-davi amarelas nas roupas, sem saber do que se trata, além de algumas vezes terem a fachada da alfaiataria pichada. Recebem, tudo comunicado pelo rabino, a notícia de que vão morar na Polônia, com promessas de trabalho e condições de vida, distante da guerra. Elias não parte, pois estava com Dimitri desde o começo na luta em defesa da Grécia. 
  Chega ao país depois de dois anos, e percebe que os pais se foram. Antes, oficiais alemães invadiram a casa da família e destruíram a mobília. Já se falava no plano da Alemanha estar se concretizando, com judeus sendo mortos em câmaras de gás. Assim que sabe dessa notícia, resolve ir embora para a Palestina, lugar onde teria segurança. 
  O romance é o fio entre as famílias de Katerina e Dimitri, e todos da rua onde moram. A mistura de crenças é algo encantador, que faz a história cada vez mais surpreendente.
  Soube que não erraria comprando este livro desde a primeira vez em que o vi como lançamento do começo do ano da Intrínseca. E a autora me confirmou isso, e me deu um prazer imenso na leitura, apesar de todo o mal das duas guerras entrelaçadas à história das famílias dos protagonistas. O final é tão encantador quanto o começo. 
               


Título Original: The Thread
Autora: Victoria Hislop
Tradução: Adalgisa Campos da Silva
Editora: Intrínseca
Ano de Publicação: 2013
Páginas: 365
ISBN: 978-85-8057-298-8
Classificação: 







Sobre a autora



  Victoria Hislop é escritora e jornalista. Escreve artigos sobre   viagens para o The Sunday Telegraph, artigos sobre educação para o Daily Telegraph e diversos artigos generalistas para a Woman & Home. Actualmente, vive em Kent com a sua família. Depois de publicar o seu primeiro romance, "A Ilha", Victoria Hislop foi aclamada pela crítica e acarinhada por milhares de leitores.  


  

  
  
  



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