Postagens Recentes

Mostrando postagens com marcador Mia Couto. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Mia Couto. Mostrar todas as postagens

23/05/2013

Pergunta-me (Mia Couto)


"Pergunta-me" 

Pergunta-me
se ainda és o meu fogo
se acendes ainda 
o minuto de cinza
se despertas
a ave magoada
que se queda
na árvore do meu sangue

Pergunta-me
se o vento não traz nada
se o vento tudo arrasta
se na quietude do lago
repousaram a fúria
e o tropel de mil cavalos


Pergunta-me
se te voltei a encontrar
de todas as vezes que me detive
junto das pontes enevoadas
e se eras tu
quem eu via
na infinita dispersão do meu ser

se eras tu
que reunias pedaços do meu poema
reconstruindo
a folha rasgada
na minha mão descrente

Qualquer coisa
pergunta-me qualquer coisa
uma tolice
um mistério indecifrável
simplesmente
para que eu saiba
que queres ainda saber
para que mesmo sem te responder
saibas o que te quero dizer

- Mia Couto -
Do livro "Raiz de Orvalho e outros poemas"


            Da página do Facebook: Flores e Poesias



06/03/2013

Reflexões para o Dia Internacional da Mulher #4



REFLEXÕES PARA O DIA INTERNACIONAL DA MULHER 4

Chega-me ainda a voz de meu velho pai como se ele estivesse vivo. Era essa voz que fazia Deus existir. Que me ordenava que ficasse feia, desviçosa a vida inteira. Eu acreditava que nada era mais antigo que meu pai. Sempre ceguei em obediência, enxotando tentações que piripirilampejavam a minha meninice.

MIA COUTO

No conto "Saia almarrotada", do livro "O Fio das Missangas"

Photo by © Jacques Taberlet

através da página Mia Couto, no Facebook:

Reflexões para o Dia Internacional da Mulher #3



REFLEXÕES PARA O DIA INTERNACIONAL DA MULHER 3

Apenas quando chorava me sobrevinham belezas. Só a lágrima me desnudava, só ela me enfeitava. Na lágrima flutuava a carícia desse homem que viria. Esse aprincesado me iria surpreender. E me iria amar em plena tristeza. Esse homem me daria, por fim, um nome. Para o meu apetite de nascer, tudo seria pouco, nesse momento.

MIA COUTO

No conto "Saia almarrotada", do livro "O Fio das Missangas"

Photo by © Nicholas Wiesnet

através da página Mia Couto, no Facebook:

Reflexões para o Dia Internacional da Mulher #2



REFLEXÕES PARA O DIA INTERNACIONAL DA MULHER 2

A mim, quando me deram a saia de rodar, eu me tranquei em casa. Mais que fechada, me apurei invisível, eternamente nocturna. Nasci para cozinha, pano e pranto. Ensinaram-me tanta vergonha em sentir prazer, que acabei sentindo prazer em ter vergonha.

MIA COUTO

No conto "Saia almarrotada", do livro "O Fio das Missangas"

Photo by © Eric Lafforgue

através da página Mia Couto, no Facebook:

Reflexões para o Dia Internacional da Mulher #1



REFLEXÕES PARA O DIA INTERNACIONAL DA MULHER

Nós, mulheres, estamos sempre sob a sombra da lâmina:
impedidas de viver enquanto novas; acusadas de não morrer quando já velhas.

MIA COUTO

No livro "A Varanda do Frangipani"

Photo by © Pierangelo Gramignola

através da página Mia Couto, no Facebook: