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12/08/2012

Sobre a frase de Rimbaud


Sobre a frase de Rimbaudseg, 09/11/09




Por Zeca Camargo

Pois é, infelizmente a frase do post anterior não é minha – algo que as próprias aspas já indicavam, claro, mas que eu quis esclarecer logo no início da nossa conversa de hoje. Aliás, já que é para dar crédito, parabéns à Andréia, que foi à fonte e citou em seu comentário o próprio autor, o poeta francês Arthur Rimbaud (1854-1891), inspiração quase sagrada para homens e mulheres de 17 anos “de todas as idades” – se é que você me entende… (...)
O verso – no original “On n’est pás sérieux , quand on a dix-sept ans” – abre (e quase fecha) um poema clássico de Rimbaud, chamado “Romance”, que, como o título já indica, fala da deliciosa loucura que é se apaixonar na adolescência. Lembro-me de ter lido Rimbaud pela primeira vez na época em que a maioria das pessoas descobre o poeta – e, com efeito, até mesmo a própria poesia: na adolescência tardia (que na minha história pessoal equivaleu aos meus primeiros anos de faculdade). Por uma nem tão óbvia assim associação de ideias, foi a mesma levada poética que me levou até Lorca – outro poeta, este espanhol (andaluz!), que nasceu no final do século 19 e morreu deveras jovem em 1936. Mas eu divago…
Enfim, entre tanta coisa que li então de Rimbaud, muito pouco ficou gravado na minha memória – uma vez que o próprio estado etílico em que eu geralmente me encontrava quando procurava amparo no poeta não permitia que eu retivesse muita coisa no meu jovem hipocampo (neurocientistas, por favor me perdoem essa licença poética!). Mas esse verso nunca me deixou – ainda que com pequenas variações (em algumas traduções ele vem mais taxativo: “Ninguém é sério aos 17 anos”!). (...)

Como toda boa provocação, esta (involuntária, talvez?) de Rimbaud não pretende chegar a nenhuma resposta definitiva. Só quer, justamente, provocar… (...)

“Eu vou. Por que não?”  – para citar um outro poeta (um certo Caetano), que sempre me ajuda a lembrar como é bom ter 17 anos…


06/04/2012

Nuno Júdice (Rimbaud Inverso - I)


                                        




Nuno Júdice


RIMBAUD INVERSO            
                                
                                                  




O pastiche é um pastis




(fragmentos)








oblíquos carros do matinal clamor
murmúrio de séculos afogados bebendo ternura
fogo do deus solar oferecendo-se para fechar os olhos
à força e à beleza abraçadas no poder desmedido da Vida
oiro de lâminas escritas na ventura excessiva da juventude
portais escancarados lassos de olhos do deserto nocturno
estações morrem e florescem naqueles que, longe da divina claridade,
descobrem a partida eterna do sol desejado — por quê? — 
num porto regressado das brumas imóveis ascendidas da barca do outono
crucificaram a chuva encharcando o pão podre de farrapos, lama e fogo
esplêndidas cidades de paciência ardente armadas
na aurora raiada de real ternura de armas veladas
de espécies retardadas na morte dos queixumes sórdidos 
moderados pelos silvos pestilentos de um cântico de dentes
as eternas recompensas caem em cima de um cadáver de luz


JÚDICE, Nuno. Obra Poética (1972-1985). Quetzal Editores: Lisboa, 1999. 2a edição. p. 323










21/09/2011

A Arthur Rimbaud - Paul Verlaine


Mortel, ange ET démon, autant dire Rimbaud, 
Tu mérites la prime place en ce mien livre, 
Bien que tel sot grimaud t'ait traité de ribaud
Imberbe et de monstre en herbe et de potache ivre.


Les spirales d'encens et les accords de luth
Signalent ton entrée au temple de mémoire
Et ton nom radieux chantera dans la gloire,
Parce que tu m'aimas ainsi qu'il le fallut.


Les femmes te verront, grand jeune homme très fort,
Très beau d'une beauté paysanne et rusée,
Très désirable d'une indolence qu'osée!


L'histoire t'a sculpté triomphant de la mort
Et jusqu'aux purs excès jouissant de la vie,
Tes pieds blancs posés sur la tête d'Envie!




Mortal, anjo E demônio, ou melhor, Rimbaud,
Teu lugar no meu livro é o primeiro como um prêmio;
Tu que um bobo escritor um dia esculhambou
Te achando um debochado imberbe, um verme, boêmio.


As espirais de incenso e os acordes do alaúde,
Saúdam tua chegada ao templo da memória,
Onde teu nome esplêndido soará em glória,
Pois me amavas, se preciso, até a plenitude.


Serás para as mulheres, sempre, belo e forte,
De uma beleza assim, agreste e sedutora,
Tão cobiçada quanto desvanecedora!


E a história te erguerá triunfante da morte,
P'ra que, apesar de toda a lama, o mundo veja
Teus pés intactos sobre a cabeça da Inveja!


Tradução de José Machado Sobrinho.

Iluminações - Jean-Nicholas Arthur Rimbaud



Iluminações (Extratos)


«(...) 


Carta Dita do Vidente


Rimbaud a Paul Demeny
Charleville, 15 de Maio de 1871.


Resolvi lhe dar uma hora de literatura nova; começo imediatamente com um salmo de atualidade:


Canto de Guerra Parisiense


A Primavera é evidente
Pois do coração das Propriedades verdes
O voo de Thiers e de Picard
Deixa seus esplendores bem em frente! 


Ô Maio! que delirantes anjinhos!
Sèvres, Meudon, Bagneux, Asnières,
Ouçam os bem-vindos contra Paris
Semear coisas primaveris!


Eles têm quepe, espada e tambor
Não a velha caixa de velas
E suas canoas sem temor
Cruzam o lago de águas vermelhas!


Mais do que nunca somos devassos
Quando caem em nossos lares
As bombas amarelos aços
Nas madrugadas particulares!


Thiers e Picard são amores
Que colhem girassóis 
Com petróleo pintam Corots
Suas tropas zumbem nos paióis...


São amigos do grande truque
E deitado nas flores, Favre
Corta cebolas para chorar, 
Cheira pimenta e mostra o muque!


A grande cidade tem a rua quente
Apesar das duchas de petróleo
E realmente precisaremos
Sacudir o vosso espólio...


E os Rurais descansando
Agachados ou de quatro,
Ainda ouvirão galhos quebrando
Nos vermelhos combates!


- Eis alguma prosa sobre o futuro da poesia - (...) O primeiro estudo do homem que quer ser poeta é o seu próprio conhecimento, inteiro; ele procura a sua alma, a inspeciona, a tenta, a aprende. Quando a sabe, deve cultivá-la; isto parece simples: em todo cérebro há um desenvolvimento natural; tantos egoístas se proclamam autores; há bem outros que se atribuem o seu progresso intelectual! - Mas se trata de fazer a alma monstruosa: como os comprachicos, pois! (...) 
Digo que é preciso ser vidente, se fazer vidente. 
O Poeta se faz vidente através de um longo, imenso e refletido desregramento de todos os sentidos. Todas as formas de amor, de sofrimento, de loucura; ele procura ele mesmo, ele esgota nele todos os venenos, para só guardar as quintessências. Indizível tortura onde ele se torna entre todos o grande doente, o grande criminoso, o grande maldito, - e o supremo Sábio! - Pois ele chega ao desconhecido! Porque ele cultivou a sua alma, já mais rica do que nenhum! (...)Portanto o poeta é mesmo um ladrão de fogo. 
Ele é encarregado da humanidade, dos animais até; ele deverá fazer sentir, apalpar, escutar as suas invenções; se o que ele traz de tem forma, ele dá forma; se é informe, ele dá informe. Encontrar uma língua;
- De resto, toda palavra sendo ideia, o tempo de uma linguagem universal virá! (...) Esta língua será alma para alma, resumindo tudo, perfumes, sons, cores, pensamento agarrando o pensamento e puxando. O poeta definiria a quantidade de desconhecido nascendo em seu tempo na alma universal: ele daria mais - que a fórmula de seu pensamento, que a partitura de sua marcha ao Progresso! Enormidade que se torna norma, absorvida por todos, ele seria mesmo um multiplicador de progresso! (...)
A arte eterna teria as suas funções, como os poetas são cidadãos. A Poesia não ritmará mais a ação, ela estará na frente.
Estes poetas serão! Quando será derrubada a infinita servidão da mulher, quando ela viverá para ela e por ela, o homem, - até agora abominável - tendo-a despedida, ela será poeta, ela também! A mulher descobrirá desconhecido! Seus mundos de ideia divergirão dos nossos? Ela encontrará coisas estranhas, insondáveis, repugnantes, deliciosas; nós as teremos, nós as entenderemos.»