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19/05/2013

eu reformado



ser ainda
ser ainda

eu reformado me confesso
por ainda estar vivo
quando deveria ter morrido
no exacto instante em que deixei de trabalhar

eu reformado me confesso
por receber mensalmente uma pensão
(já ratada à má fila)
para a qual descontei todos os meses dos muitos anos que trabalhei
entregando parte do meu ganho
aos que em mim confiaram e eu neles confiei

eu reformado me confesso
por ter sempre vivido do salário ganho em cada dia
gastando o que tinha e não mais do que podia
se economias tenho e delas me sirvo
pelas poupanças peço perdão
pois se não fossem elas difícil seria continuar vivo

eu reformado me confesso
por todos os dias sentir que já não estou tão saudável
e que a doença não me faz mal a mim
mas à sustentabilidade do sistema de saúde
que alguns só concebem para pessoas sãs que não causam despesa
o que me põe ainda mais doente

eu reformado me confesso
por ter tido filhos
os ter criado, educado, formado, preparado
para produzirem riqueza neste que é o seu país
e continuar hoje a ajudá-los na criação dos meus netos
que empregos não há para o esforço que fiz

eu reformado me confesso
p r o f u n d a m e n t e r e v o l t a d o
por me roubarem sem nunca ter roubado
desse crime me confesso e peço perdão
nunca roubei, isso não

(António José Cravo)

26/03/2013

tempo de memória (António José Cravo)


tempo de memória

ribeira de pardelhas
                            ribeira de pardelhas

aqui sentei outrora sonhos
rasguei outras folhas com outra raiva

a memória enche este espaço

na ria os olhos gastam-se
iniciando uma viagem impossível
onde a saudade não tem lugar

o que fui
o seu tempo teve
o que sou
o mistério de estar de novo aqui
entrego ao sol
para que arda e morra e arda sempre

(António José Cravo) 

10/03/2013

Colóquio "Escritoras brasileiras em Portugal" na BNP


COLÓQUIO “ESCRITORAS BRASILEIRAS EM PORTUGAL” NA BIBLIOTECA NACIONAL
No âmbito das comemorações do Ano Brasil / Portugal, a Biblioteca Nacional de Portugal - BNP organiza no dia 11 de Março o colóquio “Escritoras Brasileiras em Portugal”, que integra ainda uma mostra bibliográfica sobre “Escritoras Brasileiras editadas em Portugal”.



O evento que conta com o apoio da Embaixada do Brasil em Portugal, do CLEPUL (Universidade de Lisboa), do CESNOVA (Universidade Nova de Lisboa) e do Mestrado em Estudos Brasileiros (FLUL-ICS), realizar-se-á pelas 17 horas, no Auditório da BNP, em Lisboa.

O colóquio conta com as intervenções de Arnaldo Saraiva (Universidade do Porto), Ana Maria Lisboa de Mello (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul), Maria Aparecida Ribeiro (Universidade de Coimbra), Abel Barros Batista (Universidade Nova de Lisboa) e Alva Martínez (Universidade de Lisboa) que falarão respectivamente sobre: “A edição de escritoras brasileiras em Portugal”, “Ligações indissolúveis de Cecília Meirelles a Portugal”, “A sertaneja que não quis tradução: Rachel de Queiroz e a Livros do Brasil”, “Laços de Clarice” e “Um paraíso desabitado: a terra devastada da Utopia no teatro de Hilda Hilst”.

A mostra, que será inaugurada no mesmo dia e estará patente até dia 4 de Maio, é coordenada por Isabel Lousada e Gina Rafael,  e será dedicada às edições portuguesas de cerca de 70 escritoras  brasileiras, existentes na colecção da BNP, representativas da produção da escrita  feminina brasileira do século XVIII até ao presente, desde as  “Aventuras de Diófanes, imitando o sapientisssimo Fenelon na sua Viagem de Telemaco” (1777),  de Teresa Margarida da Silva e Orta (1712-1793), até à mais recente edição, de 2012,  a obra “Nada a dizer”, de Elvira Vigna.

Para mais informações sobre a programação, consulte aqui o site da BNP.

 através do Twitter de Cena Lusófona: @CenaLusofona

A 9 de Março de 1500 partiu de Lisboa



A 9 de março de 1500 terá partido de Lisboa, a frota que haveria de descobrir o Brasil a 22 de abril de 1500. Aproveitamos para divulgar um documento, assinado por Pedro Álvares Cabral, http://digitarq.dgarq.gov.pt/details?id=4611084 pertencente à coleção “Fragmentos” http://digitarq.dgarq.gov.pt/details?id=4185711 do Arquivo Nacional da Torre do Tombo

A ARTE DA XÁVEGA EM PORTUGAL


compartilhado do meu blog "O Chão de Sal de Macau", através de ahcravo's blog, no WordPress. 

xávega, não a matem


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a xávega nas estradas de portugal
a xávega nas estradas de portugal
não há muitos dias deparei-me, no quiosque de uma estação de serviço, com um exemplar do mapa de estradas de portugal, 2013, e que tinha no rosto a foto anexa.
o barco, s. paio, foi um dos últimos barcos movido só a remos da praia da torreira e um dos primeiros a utilizar motor (o outro foi o óscar miguel, do arrais joão da calada). o proprietário era o arrais manel fumante, de seu nome manuel maria da cunha, e a companha terá trabalhado até por volta de 1995 – segundo informações de joão da calada.
é este o portugal onde vivo. no momento em que o governo, com a informação muito subtilmente passada na comunicação social de que irá deixar de ser possível comercializar peixe miúdo, nomeadamente o jaquinzinho ou carapau pipi, decreta a condenação desta arte de pesca, a sua imagem é utilizada para promover o país.
a xávega, embora já sem os bois, continua a ser uma arte de pesca praticada num único país do mundo: portugal. a beleza e a dureza da faina fazem parte da nossa memória colectiva e são um emblema dos pescadores portugueses e de todo um povo.
obedecendo a todas as normas legais, nacionais e europeias, a malhagem das redes da xávega continua a trazer carapau com tamanho inferior ao determinado pela união europeia para a costa atlântica, muito maior que o permitido para o mediterrâneo – nós pescamos carapau no atlântico e os espanhóis no mediterrâneo !!!!!!!!!! (não).
não querendo aqui falar de outras embarcações que se dedicam, ao longo da costa e ao largo, à pesca do carapau, seria bom dizer que o carapau miúdo capturado pelas xávegas, tem um defeito: é visível, fica ali na areia aos olhos de quem por perto esteja e dos fiscais atentos. já os do alto ……
sempre foi tradição entre os arrais da xávega, até para salvaguardar a sua sobrevivência, que, se no primeiro lanço do dia só viesse carapau miúdo, não se faria mais nenhum lanço até depois do almoço, e que se se voltasse a repetir a abundância do mesmo carapau, a pesca nesse dia era suspensa. o peixe era vendido e, embora não desse muito, sempre dava algum para a companha.
em 2012, sabe-se lá porquê, as autoridades resolveram começar a exercer uma fiscalização exacerbada em todas as praias onde ainda existem companhas de xávega e a controlar de forma apertada os tamanhos do carapau – tudo o que fosse menos de 12cm tinha de ser enterrado na areia, deitado ao mar, ou, se apreendido, depois de aplicadas as respectivas coimas, lixiviado e destruído.
note-se que estamos muito acima do tamanho dos jaquinzinhos e na dimensão do carapau que “habitualmente” é capturado pelas companhas, impedir a sua comercialização é impedir a manutenção da xávega como arte de pesca e forma de subsistência de muitas famílias.
com tanta gente a passar fome, isto é no mínimo um atentado à consciência de qualquer um. ainda se o peixe ao ser devolvido ao mar continuasse vivo…. mas tal é impossível: peixe na praia é peixe morto ou condenado a tal.
mas, nas grandes superfícies, lá estão à venda os jaquinzinhos! claro que com etiqueta espanhola, como a medida no mediterrâneo é menor…..
dizem alguns que a xávega, ao efectuar estas capturas, põe em causa a sustentabilidade da fileira do carapau na nossa zona de pesca exlusiva, mas se nem sequer esgotámos, em 2012, a quota imposta pela união europeia para o carapau, como é possível que a sua sustentabilidade esteja em causa?
a associação portuguesa de xávega, criada em novembro de 2012, que representa todas as companhas da nossa costa, tem vindo a desenvolver iniciativas, junto do governo e do parlamento, para que esta situação seja alterada e se mantenha a capacidade de subsistência desta forma secular de pesca e uma das maiores atracções turísticas das praias da costa ocidental portuguesa.
é pois tempo de apoiar todas as acções que conduzam a uma reavaliação das normas aplicadas às capturas da xávega e deixar para outras calendas as discussões teóricas sobre designações de artes e barcos.
enquanto descendente de pescadores da xávega (ou chamem-lhe o que quiserem) e admirador destes homens e mulheres que teimam, sem qualquer apoio, em continuar a ganhar o pão com os saberes herdados dos seus antepassados, queria deixar aqui o meu apelo a todos os que andam distraídos em guerras de emails e outras, sobre denominações e terminologias, que o importante neste momento não é de como se chama, é de como se continua.
diria um pescador: quantas vezes mais fácil é defrontar o mar do que convencer os homens.


09/03/2013

escrever-te (António José Cravo)



de passagem
de passagem
escrever no
tempo que
me escreve

ser aqui
apenas
este sentir
tanto
enquanto
tempo meu
houver

pescar
palavras
no mar
dos dias
onde

escrever no
tempo que
me escreve

escrever-te

08/03/2013

Almeida Faria sobre Ariano Suassuna


Almeida Faria (centro) e Ariano Suassuna (dir.) na palestra sobre Utopia, Messianismo e Sebastianismo. VIII Fliporto - Olinda, Pernambuco, Brasil. 16/11/2012. 

                                     A espera cíclica de uma solução 
O escritor português Almeida Faria conversou com o blog literário e nos falou da sua admiração por Ariano Suassuna, que estará ao seu lado numa das mesas da Fliporto e da força da expressão “sebastianismo” no mundo atual.
1 – O senhor poderia falar um pouco da sua impressão em relação à obra de Ariano Suassuna, que estará ao seu lado numa das mesas da Fliporto?
 - A minha relação com a obra de Suassuna começou vai para meio século e vem progredindo por saltos e acasos. Em mil novecentos e sessenta e quatro, por um golpe de sorte, descobri num alfarrabista da Rua do Poço dos Negros, em Lisboa,Uma Mulher Vestida de Sol, sua primeira peça. O poético título, inspirado noApocalipse, levou-me a comprar sem hesitar aquela edição da Universidade do Recife, de capa amarelo torrado, com um sol vermelho baço sobre fundo acastanhado.
Tinha eu vinte e poucos anos, publicara dois romances e sonhava escrever teatro. Porém, no Portugal de então, havia um óbice capaz de desencorajar quaisquer veleidades teatrais: a imprensa periódica, o cinema e o teatro eram submetidos a uma férrea Censura Prévia. A ditadura de Salazar achava que, num país maioritariamente analfabeto, mais perigosos e potencialmente mais subversivos que os livros eram alguns espectáculos. Autores como Sartre, Peter Weiss e outros não eram encenáveis nem, nalguns casos, publicáveis. Assim se explica que boa parte da minha geração desconhecesse Suassuna até ao sucesso doAuto da Compadecida. O qual, graças às mil maravilhas do You Tube, vi no meu computador.
Por uma dessas coincidências que o surpreendente espectáculo da vida por vezes nos reserva, há anos viajei com Selton Mello, o Chicó pícaro da mais recente versão do Auto da Compadecida, num voo São Paulo-Rio. Ambos tínhamos assistido na véspera, em São Paulo, à antestreia de Lavoura Arcaica, filme baseado no romance de Raduan Nassar, amigo de longa data, em que Selton era o protagonista.
Das muitas peças de Suassuna, li mais três além da primeira: O Santo e a Porca,na qual Santo António, o casamenteiro de Lisboa ou de Pádua (tanto faz) é um excelente exemplo de „graça e astúcia cabocla“ (palavras de Carlos Drummond de Andrade); O Casamento Suspeitoso; e, enfim, A Pena e a Lei.
Em mil novecentos e sessenta e oito, sendo eu escritor residente nos Estados Unidos, palestrei em diversas universidades e numa delas conheci um bem disposto professor brasileiro que me contou como começara a sua fugaz carreira teatral encarnando a personagem de Joaquim na montagem inicial de A Pena e a Lei no Teatro do Parque, aqui ao lado.
Nos anos setenta comprei o Romance d´A PEDRA DO REINO e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta, cuja epígrafe de abertura é uma frase atribuída a „DOM SEBASTIÃO, O DESEJADO – Rei de Portugal, do Brasil e do Sertão“. As maiúsculas do título e da epígrafe não são minhas, são da edição original que anotei e sublinhei.
Estas sucessivas aproximações às ficções de Suassuna dão-me a impressão de conhecê-lo já há décadas. Na verdade, nunca nos encontrámos.
- Em que medida a expressão “sebastianismo” ainda decifra o povo português ou mesmo o brasileiro, já que tivemos movimentos de sebastianismo ao longo da nossa história?
- Não sei se "decifra" ou não. Quanto aos portugueses, o sebastianismo é uma forma de messianismo, é a espera cíclica de uma solução vinda de fora, uma frágil fé ou esperança a que nos agarramos em momentos de aflição. D. Sebastião foi um pobre-diabo e uma figura trágica. O príncipe D. João, seu pai, morreu aos dezasseis anos, antes mesmo de o filho nascer. A mãe, Dª Joana de Áustria, filha do imperador Carlos V e portanto irmã de Felipe II, rei de Espanha, casou aos dezanove anos e ficou viúva menos de um ano depois. Cumprido o dever de dar um herdeiro à coroa portuguesa, regressou a Madrid onde fundou o mosteiro das Descalças Reais para ela própria e nele viveu até morrer. Nunca mais viu o filho. Já em criança cognominado o Desejado, órfão de pai e abandonado pela mãe, D. Sebastião foi educado pelos jesuítas e pela avó, Dª Catarina de Áustria, num caldo cultural que o levou a sonhar ser um herói, virgem como Galahad e imortal como outros cavaleiros da Távola Redonda. Tinha vinte e quatro anos quando, para escapar à obrigação de casar, decidiu sem mais nem quê ir atacar os “infiéis” no Norte de África Em Agosto de 1578, após uma viagem em centenas de barcos, à frente de um exército parcialmente formado por milhares de mercenários de toda a Europa, o incauto rei, perseguindo o “inimigo” que fingia fugir dele, avançou deserto a dentro. Sob um sol fulminante, com homens e cavalos sequiosos, exaustos, num lugar chamado Alcácer Quibir, os cristãos foram em poucas horas massacrados e o rei nunca mais foi visto. Alguns dos grandes do reino, distinguíveis pela riqueza das armas e armaduras, e pela raça e jaezes dos cavalos, foram poupados a fim de serem trocados por rendosos resgates. Como a nobreza devia morrer pelo rei ou com o rei, os sobreviventes fizeram constar que o rei desaparecera, que se tornara Encoberto e iria voltar. O país inteiro ficou à espera dele. Sem filhos nem irmãos, o seu sucessor mais próximo era o tio e primo em segundo grau, Felipe II, rei de Espanha e de um mundo “onde o sol nunca se punha”. Melhor que eu aqui em duas linhas, o poeta Hans Magnus Enzensberger conta aliás esta história sebástica, em discurso direto que me é atribuído, num dos brilhantes ensaios de Ach Europa! (A Outra Europa. Impressões de sete países europeus, com um epílogo de 2006, na edição brasileira da Companhia das Letras). O primeiro profeta do Encoberto foi o visionário Bandarra, um sapateiro nascido em Trancoso no ano em que os portugueses chegaram ao Brasil. Retomando a lenda céltica de um rei adormecido numa ilha envolta em névoa, publicou as Trovas anunciando a vinda do rei Encoberto. Naqueles turvos tempos de Contra- Reforma, boa parte da Igreja Católica preferia a santa ignorância, e quem conhecesse um pouco do Antigo Testamento era suspeito. Acusado de judaísmo, o sapateiro foi preso e levado, em 1541, numa das sinistras procissões que antecediam os autos-da-fé. Não se sabe porquê, escapou à fogueira. No século seguinte surgiu o missionário do sebastianismo, aquele luso-brasileiro Padre Vieira a quem Fernando Pessoa chamou “imperador da língua portuguesa”. Igualmente perseguido e preso pela Inquisição, valeu-lhe a proteção do rei, que o mandou em secretas e delicadas tarefas diplomáticas à Holanda e a Roma. Regressado a Portugal, teve o cuidado de deixar inédito o magno tratado milenarista e bíblico intitulado História do Futuro. Mais perto de nós, o mito encontrou o seu mais inspirado defensor em Fernando Pessoa, que põe na boca do Desejado a defesa da sua orgulhosa loucura:
Louco, sim, louco porque quis grandeza Qual a sorte a não dá (…) Sem a loucura, que é o homem Mais que a besta sadia, Cadáver adiado que procria.
No meu romance O Conquistador narro o aparecimento fantástico de uma criança fisicamente semelhante a D. Sebastião, na manhã enevoada de um dia de São Sebastião, vinte de Janeiro, dia do nascimento do rei. O incipit romanesco acontece a vinte de Janeiro de 1954, quatro séculos exatos, dia por dia, sobre a data em que nasceu o Desejado. Mas o meu protagonista tem outras ambições, e são outras as suas conquistas. Em manhãs de nevoeiro ouve-se aqui dizer que é um dia ideal para D. Sebastião voltar. E hoje mesmo, 3 de novembro, no Público, o mais prestigiado diário português, o acutilante cronista Vasco Pulido Valente termina assim o seu artigo de opinião sobre a desgraça financeira e política do país: “Se alguém encontrar D. Sebastião numa manhã de nevoeiro, por favor escreva para este jornal.”

05/03/2013

BASTA! (António José Cravo)


BASTA!



não nos queiram contar
fomos muitos
fomos indignação
protesto
fomos gerações
unidas massacradas
mas não vencidas

não nos queiram contar
fomos bastantes
revivemos o que pensávamos
já não
fomos ainda os mesmos
e muitos mais

isso te digo
cantámos e dissemos
basta!
basta!
ouviram?

estaremos cá
sempre
por nós
os que pela mão
ensinámos
a serem

estaremos cá
sempre
BASTA!

(António José Cravo)

o vídeo
http://www.youtube.com/embed/W_D85XlSs-o

09/12/2012

Ser Poeta (Florbela Espanca) por Luís Represas


118º aniversário de Florbela Espanca a 08.12.2012




Vitorino Nemésio refere a aura quase mitológica, como se de uma lenda se tratasse, que se gerou em torno de Florbela, a que não é, provavelmente, alheio o seu trágico percurso e a forma como o retratou nos seus versos: A rapidez com que a lenda se apoderou de Florbela mostra bem como estamos em presença - creio que pela primeira vez na literatura portuguesa - de uma poetisa musa. Mais do que isso: de uma deiade ou de um duende, um ser mitológico de que já alguns poetas autênticos (Manuel da Fonseca, por exemplo) se apoderaram para dele fazer a alma da planície alentejana, «genius loci» errante entre o piorno e as estevas. (Vitorino Nemésio, «Florbela», in «Conhecimento da Poesia»).

Fonte: http://www.citi.pt/cultura/literatura/poesia/florbela_espanca/nemesio.html


30/11/2012

Artur Afonso


22



Por Artur Afonso 

Dá-me a conhecer o mundo que anseio,
enche-me a vida de imolando!
Quero sentir o gozo da vida.

Quero ser parte do que é teu, 
conhecer as belas coisas do mundo,
sentindo a eternidade pulsante!

[Se tu soubesses o desejo que em mim, qual Fénix, renasce!
Se tu soubesses todas as coisas do saber, do amor distante...]

Vem, vem...
soubesses a alma que em mim fenece,
torpe distância que em mim se consome...
Vem, vem, vem... como me embalando.

Dá-me as coisas que não existem mas sinto,
Dá-me amor, esse desejo das coisas vencidas,
palpitantes por dentro...
satírica fome das coisas absortas!

Vem,
dá-me a poesia da vida!
- Que te possua olhando nas órbitas,
por dentro, como se eu fora o único, o tal,
o perene ser das coisas etéreas!

Vem,
dá-me esse regozijo de vida,
essas palpitações convulsas,
esse pulsar de alma que sente, de quem só sente...

Beija-me por dentro,
eu trémulo por tuas mãos arguentes, dá-se fome, dá-me tanto!
- A fome das coisas ausentes,
das coisas que sinto,
a fome da poesia ao dilacero, a fome que não pára!
Cicatriza-se-me a alma, parte-se-me o pranto!

Ah! Prosterna-me!
Goza no eu olhando-te na íris,
no eu que querendo-te em violência cortante,
como saciando fome de séculos e de vida!

...

Dá-se este pungir das coisas húmidas,
líquidos viscosos do corpo.
Ah... ser teu... vem!

Ser mais...
Ser como tu, nas estrelas distantes,
ser das coisas belas e reais...

Pulsar de vida!

- Artur Afonso

Fonte da imagem: http://www.romerodeandradelima.com.br
Exposição "Memória Armorial".
Outubro/09


17/11/2012

Espanha, Portugal e América Latina



Espanha propõe aliança com Portugal e países da América Latina para enfrentar crise

O rei espanhol Juan Carlos abriu, sexta-feira (16), a 22ª Cúpula Ibero-Americana, em Cádiz, propondo alianças entre a Espanha, Portugal e os países da América Latina a fim de aproveitar a atual bonança econômica das antigas colônias.
América do Sul, Espanha e Portugal em busca de convergências
Cádiz - O rei espanhol Juan Carlos abriu, sexta-feira (16), a 22ª Cúpula Ibero-Americana, em Cádiz, propondo alianças entre a Espanha, Portugal e os países da América Latina a fim de aproveitar a atual bonança econômica das antigas colônias. Segundo ele, os dois lados do oceano devem falar com "uma só voz".
"Nossos olhos estão em vocês, temos experiência que se pode dividir", disse aos chefes de Estado e de Governo da América Latina presentes à inauguração da cúpula. Para o rei, atualmente o Continente Latino-Americano tem mais coesão social, mas ainda precisa lutar contra as desigualdades.
"A Espanha tem sido terra de acolhida da América Latina", disse o primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy. Segundo ele, contar com "mais América Latina na Europa e na Espanha é uma receita imbatível para afrontar os atuais desafios".
O que ficou claro na abertura do encontro é o desejo de "uma relação renovada" entre a América Latina, a Espanha e Portugal.
Neste primeiro dia, a presidenta Dilma Roussef teve duas reuniões bilaterais com os colegas da República Dominicana e do Haiti.
Acompanham a presidente brasileira os ministros Antonio Patriota, das Relações Exteriores, Aloizio Mercadante, da Educação, Helena Chagas, da Comunicação Social, e Marco Aurélio Garcia, assessor especial da Presidência da República para Assuntos Internacionais.
Neste sábado (17), a presidente Dilma deverá se posicionar sobre a crise na Europa ibérica, na sessão plenária em que os chefes de Estado e de Governo assinarão a Declaração de Cádiz.
O documento destacará o desenvolvimento de infraestruturas, a promoção de micro, pequenas e médias empresas e políticas de crescimento econômico e emprego. As informações são da ABr.

Fonte: Portugal Digital 
http://www.portugaldigital.com.br/politica/ver/20073252-espanha-propoe-alianca-com-portugal-e-paises-da-america-latina-para-enfrentar-crise
Acesso em 17/11/2012.